O que é a carraça?
A carraça é um ectoparasita que usa uma vasta gama de hospedeiros para se alimentar através do seu sangue: equinos, suínos, cães, gatos, ruminantes, aves, roedores, etc.
Das cerca de 800 espécies que há em todo o mundo, em Portugal existe uma dezena e, dentro deste grupo, há especialmente duas espécies que merecem a nossa atenção por serem as que parasitam os nossos cães. De acordo com as características morfológicas, distinguimos:
– Carraças “duras”, na medida em que a cutícula que as reveste é dura. Esta espécie assemelha-se a um “vulgar” insecto, tipo escaravelho;
– Carraças “moles”, nas quais a cutícula é mole. Esta espécie fixa-se de preferência nas orelhas dos animais e incha quando fica repleta de sangue, assemelhando-se a um feijão.
Representa um perigo para a saúde humana e animal?
A carraça, quando portadora de micróbios, constitui um perigo para os nossos cães e também para a saúde pública. O crescimento do número de animais de estimação e, fundamentalmente, o sucessivo e preocupante abandono de cães e de gatos, constituem fatores decisivos para a proliferação deste parasita. Esta situação tornou-se deveras preocupante, não apenas pelo incómodo que a carraça causa ao animal, mas principalmente pelas doenças que pode transmitir ao picá-lo, quando portadora de micróbios, vírus, ricketssias e outros agentes. Essas doenças são a erlichiose e a babesiose, apresentando uma gravidade considerável.
No homem, a picada também pode provocar doenças, como a chamada “febre de carraça”, situação perigosa que requer cuidados clínicos específicos.
Doenças transmissíveis
Só as carraças portadoras de agentes infecciosos transmitem doenças ao cão: a erlichiose e a babesiose.
As carraças portadoras desses micróbios (protozoários – seres unicelulares microscópicos), transmiti-los-ão aquando da picada destas no animal. Estes protozoários vão “colonizar” os glóbulos vermelhos e/ou as células mononucleares do hospedeiro provocando, após um período de incubação de 1-3 semanas, sinais de doença.
Assim, as carraças devem ser removidas o mais rapidamente possível por forma a limitar o tempo de transmissão dos agentes causadores de doenças, pois não há forma de determinar se elas são ou não portadoras desses agentes infecciosos.
É fundamental também em atenção que basta uma ou duas carraças portadoras dessas formas infecantes para que o cão contraia uma dessas doenças. Assim, a vigilância deve ser constante e qualquer sinal de apatia, febre, falta de apetite e mucosas (gengivas ou conjuntiva) pálidas em cães que costumam ter carraças, é motivo para uma visita ao veterinário que, através da análise sanguínea, poderá detetar a babesiose ou a erlichiose. Estas doenças são tratáveis mas apenas quando diagnosticadas a tempo.
Ciclo de vida
O ciclo de vida da carraça divide-se em 4 fases de desenvolvimento: o ovo, a larva, a ninfa e o adulto.
Um único hospedeiro pode ser parasitado por todos estes ciclos de vida da carraça.
Uma carraça adulta pode criar milhares de ovos, que se libertarão do hospedeiro caindo no solo e aqui se desenvolvendo, se encontrarem condições propícias, que são preferencialmente zonas de vegetação de baixa ou média altura e com algum grau de humidade.
Como se “apanham” carraças?
As carraças atingem o corpo do cão por contacto direto. Como não voam nem saltam, normalmente instalam-se nas ervas e nos arbustos e esperam que o seu futuro hospedeiro passe e roce essa vegetação, dispondo para o efeito de uma sensibilidade especial que lhe permite detetar a aproximação e passagem da vítima.
Como evitar a infestação?
Infelizmente, não há nenhum esquema de tratamento preventivo. Se o cão frequenta áreas infestadas por carraças, certamente ficará sujeito a apanhá-las. As zonas com vegetação rasteira e arbustos são as mais arriscadas. No entanto, elas podem existir nos pavimentos, nas frestas de muros e, portanto, durante um simples passeio a uma praça ou um jardim público, o cão pode infestar-se. E o mesmo pode acontecer nos nossos quintais ou jardins privados, se a desinfestação não tiver sido feita de forma integrada.
Como combater a carraça?
Tal como acontece com as pulgas, a carraça não deve combater-se apenas no corpo do animal, mas também no ambiente.Em todos os seus estágios de vida (desde larva até adulto), a carraça é muito resistente. As formas invisíveis do seu ciclo de vida, os ovos e as larvas, permanecerão no ambiente e nele sobreviverão durante muitos meses se não forem tomadas medidas adequadas.Por isso, o combate é extremamente difícil.
Já eliminá-la do cão é relativamente fácil, seja catando-a com uma pinça ou através de antiparasitários específicos. Quando se usa uma pinça para arrancar a carraça, deve ter-se o cuidado de usar previamente álcool ou éter para “adormecer” o parasita. Este usa umas garras para se fixar na pele no cão e estes líquidos, para além de desinfetarem a picada, ajudam a sua remoção. De outra forma, à força, o parasita é retirado mas as garras ficam agarradas à pele, podendo causar uma infeção posteriormente.
Em relação aos espaços públicos, quaisquer medidas a nível individual são ineficientes. A solução mais sensata para evitar que o cão apanhe carraças consiste em evitar levá-lo para locais infestados. De qualquer modo, se tal não for possível, deverá efetuar-se uma inspeção a todo o corpo do animal no regresso a casa. Em muitos casos, as carraças andam no solo e agarram-se às patas, pelo que não se deve deixar de vigiar essas zonas, inclusive entre os dedos.
No nosso ambiente doméstico, seja dentro de casa ou no jardim, todos os locais deverão ser desinfetados com inseticidas apropriados, mas tendo sempre especial atenção que esses produtos não venham a intoxicar o animal. Para garantir os critérios de segurança e eficácia, é fundamental a consulta de uma empresa especializada em controle de pragas.
Parasiticidas
Encontram-se à venda no mercado variados produtos para o combate das carraças em animais domésticos, tais como líquidos, sprays e colares. Nunca dispense o conselho do veterinário, contudo, pois é este quem lhe poderá indicar não só o produto mais adequado como também o método mais eficaz para combater o parasita, bem como a periodicidade aconselhada de aplicação. Alguns parasiticidas combatem tanto as pulgas como as carraças e, basicamente, são os mais recomendados para não sujeitar o animal à toxicidade destes produtos, que é sempre prejudicial. Deve alertar-se, ainda, para o facto de estes produtos serem concebidos de forma a não causar danos graves ao animal mas, quando em excesso, poderão colocar em causa a saúde animal. Não esquecer que muitas das substâncias tóxicas que compõem os parasiticidas são acumulativas, isto é, o organismo não se desembaraça delas na sua totalidade, agravando-se a dose de tóxicos absorvida pelo organismo com as sucessivas aplicações.